Por Graça Paes, RJ
Maternidade é tema chave dentre os filmes desta edição
O Festival do Rio 2023, maior festival de cinema da América Latina, reconhece a importância de exaltar profissionais mulheres no audiovisual e produções que apresentem narrativas ligadas às questões do universo feminino, além de temáticas políticas e sociais atreladas à agenda feminina no Brasil e no mundo. Entre os temas abordados, a maternidade é tema frequente nos filmes deste ano.
Os longas “Aqui na Fronteira”, de Marcela Ulhoa, da mostra O Estado das Coisas, vencedor do prêmio de Melhor filme no Festival de Berlim de 2022 e no Goya como melhor filme de língua espanhola, e “O Mensageiro”, de Lucia Murat, da Premiére Brasil: Competição Longa-metragem de Ficção e ganhador do Prêmio WIP no festival de Guadalajara, abordam a maternidade no âmbito geográfico e político, discutindo distância e situações extremas de comunicação. Outro internacional que fala de maternidade e distância é “As 4 filhas de Olfa”, do diretor Kaouther Ben Hania, que conta a história de Olfa, uma mulher tunisiana que sofre com o desaparecimento de duas de suas filhas.
“Pedágio”, de Carolina Markowicz, da Premiére Brasil: Competição de longa-metragem de ficção, exibido nos festivais de Toronto e San Sebastián este ano, tem como tema para além da maternidade, a homofobia. Numa relação preconceituosa, a personagem principal que é caminhoneira, busca cura gay para seu filho. Um curta que apresenta um desafio da maternidade com ênfase na questão LGBTQIAPN+, é “A Lama da Mãe Morta”, do diretor Camilo Pelegrini, em que uma mulher trans preta tenta despejar as cinzas de sua mãe, recém falecida.
Já o filme “Incompatível com a Vida”, vencedor do festival “É tudo verdade” na categoria de Melhor longa ou média-metragem brasileiro, de Eliza Capai, conta a história de sua gravizez frustrada e conversa com outras mulheres que passaram pelo mesmo. Outro que aborda um imprevisto no ciclo reprodutivo é “Levante”, da diretora Lillah Halla, protagonizado por Domenica Dias. O longa-metragem foi premiado no Festival de Cannes deste ano.
Outros filmes percorrem a maternidade sob outras perspectivas, por exemplo a da memória. É o caso do curta “Nina e o Abismo”, de Alice Name Bomtempo e “Atmosfera”, de Paulo Caldas. Os internacionais “A mãe de todas as mentiras”, de Kadib Abyad e “Little Girl Blue” de Mona Achache, também abordam a maternidade sob o prisma da memória.
O recorte feminino no festival vai muito além da maternidade!
O longa-metragem nacional que ganha o coração das mulheres é “Meu Nome é Gal”, dirigido pelas diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi, uma cinebiografia que homenageia a vida e carreira de Gal Costa. Outro nacional que reúne um forte protagonismo feminino é “Elas por Elas”, dirigido por Taraji P. Henson, Catherine Hardwicke, Silvia Carobbio, Leena Yadav, Maria Sole Tognazzi, Lucía Puenzo, Mipo Oh, Lucia Bulgheroni, composto por 7 curtas com desafios femininos distintos.
A discussão acerca do corpo feminino também é abordada por alguns filmes, como “Por Favor Leiam Para que Eu Descanse em Paz”, em que as diretoras Ana Costa e Silva e Nanda Félix criticam o uso de diagnósticos e rótulos para controlar o corpo da mulher. Já o longa “Corpos Invisíveis”, da diretora Quézia Lopes, da Premiére Brasil: Mostra O Estado das Coisas, propõe dar luz ao corpo de mulheres negras, que são invisibilizadas socialmente. O longa francês, de Léa Fehrer, vencedor do Júri Ecumênico da mostra Panorama no Festival de Berlim 2023, “Parteiras, As” conta a história de duas parteiras que lidam com o processo de nascimento, maternidade e morte de mulheres.
“As Polacas”, de João Jardim, que foi indicado a cinco prêmios Guarani do Cinema Brasileiro, aborda a questão da prostituição de mulheres judias e a luta por liberdade do cenário precarizado do tráfico sexual no Rio de Janeiro. Outro que discute a questão política é “Mato Seco em Chamas”, de Adirley Queirós e Joana Pimenta, sobre as Gasolineiras das Kebradas, uma história de luta radical em Brasília na região da Ceilândia, premiado em mais de 36 festivais nacionais e internacionais. Quem continua a radicalidade é a diretora Isabel Nascimento com o filme “Mulheres Radicais”, da mostra Itinerários Únicos, que reúne 120 mulheres artistas latino-americanas numa exposição para dar visibilidade a seus trabalhos.
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