A Mostra é uma iniciativa da Cinemateca do MAM e da ACCRJ
(Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) e conta com a curadoria de
ambas as instituições. De 15 a 21 de outubro na Cinemateca do MAM com cópias
restauradas.
“Tenho a sensação de que todos os meus filmes tratam do
mesmo tema”, refletiu o diretor Akira Kurosawa em entrevista ao especialista em
cultura japonesa Donald Richie. '”Se eu fosse buscar esse tema, eu diria que é
uma pergunta: “Porque os seres humanos têm tanta dificuldade de serem mais
felizes quando estão juntos? Por que pessoas precisam de mentiras para
parecerem melhores do que de fato são”.
Lá se vão duas décadas desde que o homem que abriu as portas
do cinema japonês para o Ocidente se foi: em 6 de setembro de 1998 morria Akira
Kurosawa – ali o diretor encerrou sua travessia física, iconográfica, onírica
pela vida. Mas seu legado de pérolas – a maioria ligada a dilemas morais –
ficou e ainda serve de farol ao Audiovisual, sobretudo quando o assunto é
narrativa épica, multiperspectivismo e samurais, a classe profissional
(guerreira) que sua obra celebrizou. Era apelidado de “O Homem Vento”, pela
leveza que imprimia em seus planos, até nos mais violentos, e, mais
frequentemente, de O Imperador, pelo tom professoral com que conduzia os sets.
Como se esquecer de “Yojimbo”, com seu arlequim de espada em punho? E como não
incluir “Trono manchado de sangue”, a releitura dele para “Macbeth”, entre as
maiores adaptações de Shakespeare para as telas? Como não estudar um cineasta que
uniu de modo harmônico a tão debatida noção de “autoralidade” com fartas
bilheterias, tornando-se um “realizador autor” que foi sinônimo de poltronas
lotadas por salas de exibição de todo o mundo? Cada pergunta dessas é um feito
dele.
São 20 anos de ausências e de saudade, um hiato que clama por uma revisão
crítica. Daí a mostra “O Imperador e seu legado samurai”, que a Cinemateca do
MAM, em parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro -
ACCRJ programou agora para outubro, revisando algumas de suas mais populares
produções e passando em revista muitos de seus saberes: “Com um bom roteiro, um
bom diretor pode produzir uma obra de arte. Com o mesmo roteiro, um diretor
medíocre pode produzir um filme aturável. Mas, com um roteiro ruim, nem um bom
diretor consegue fazer um filme digno. Para que se realize, na tela, uma
expressão verdadeiramente cinematográfica, a câmera e o microfone devem ser
capazes de atravessar tanto o fogo como a água. O roteiro deve ser algo que tem
o poder de fazer isso”, dizia Akira.
De 15 a 20 de outubro, a Cinemateca do MAM vai viver uma
semana Kurosawa que começa com “Rashomon”, filme ganhador do Leão de Ouro do
Festival de Veneza 1951, iniciando a consagração internacional dele, com
prestígio de crítica e sucesso de público. A seleção se debruça pelo período
samurai de sua filmografia explorando as diferentes leituras que ele fez de
espadachins andarilhos do Japão feudal e de lordes guerreiros de sua pátria.
Incluem-se aí o thriller medieval “Sanjuro” (1962); “A fortaleza escondida”,
pelo qual ele ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim, em 1959;
e o fenômeno popular “Os sete samurais”, ganhador do Leão de Prata em Veneza,
em 1954, e indicado aos Oscars de Direção de Arte e Figurino.
Para o fecho do evento, foi escolhido “Mandadayo” (1993).
Com ele, a mostra dá um salto no tempo, até os anos 1990, para acompanhar o
Imperador em seu canto de cisne, seu filme final, que abre mão de katanas
encharcadas de coágulos para acompanhar o outono da existência de um educador.
É quase uma carta-testamento ou uma metáfora de uma vida de glórias e de muita
luta, em prol da poesia da imagem.
Programação:
15/10 – segunda-feira
18h30 Rashomon (88 min, 1950) - antes da sessão,
apresentação da mostra com Hernani Heffner, diretor de conservação da
Cinemateca do MAM e membro da ACCRJ. Após a sessão, debate com os críticos de
cinema Ana Rodrigues e Rodrigo Fonseca.
16/10 – terça-feira
16h Trono Manchado de Sangue (110 min, 1957)
17/10 – quarta-feira
18h30 A Fortaleza Escondida (140 min, 1958)
18/10 – quinta-feira
18h30 Yojimbo – O Guarda-Costas (110 min, 1961)
19/10 – sexta-feira
18h30 Sanjuro (96 min, 1962)
20/10 sábado
16h Madadayo (135 min, de 1993) + debate com Jeremias Ferraz
e Luiz Fernando Gallego, membros da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio
de Janeiro (SBPRJ). O mediador do debate será Leonardo Luiz Ferreira, membro da
ACCRJ.
21/10 domingo
16h Os Sete Samurais (207 min, 1954)
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