quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Akira Kurosawa: O Imperador e seu legado samurai – 20 anos de saudade



A Mostra é uma iniciativa da Cinemateca do MAM e da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) e conta com a curadoria de ambas as instituições. De 15 a 21 de outubro na Cinemateca do MAM com cópias restauradas.

“Tenho a sensação de que todos os meus filmes tratam do mesmo tema”, refletiu o diretor Akira Kurosawa em entrevista ao especialista em cultura japonesa Donald Richie. '”Se eu fosse buscar esse tema, eu diria que é uma pergunta: “Porque os seres humanos têm tanta dificuldade de serem mais felizes quando estão juntos? Por que pessoas precisam de mentiras para parecerem melhores do que de fato são”.



Lá se vão duas décadas desde que o homem que abriu as portas do cinema japonês para o Ocidente se foi: em 6 de setembro de 1998 morria Akira Kurosawa – ali o diretor encerrou sua travessia física, iconográfica, onírica pela vida. Mas seu legado de pérolas – a maioria ligada a dilemas morais – ficou e ainda serve de farol ao Audiovisual, sobretudo quando o assunto é narrativa épica, multiperspectivismo e samurais, a classe profissional (guerreira) que sua obra celebrizou. Era apelidado de “O Homem Vento”, pela leveza que imprimia em seus planos, até nos mais violentos, e, mais frequentemente, de O Imperador, pelo tom professoral com que conduzia os sets. Como se esquecer de “Yojimbo”, com seu arlequim de espada em punho? E como não incluir “Trono manchado de sangue”, a releitura dele para “Macbeth”, entre as maiores adaptações de Shakespeare para as telas? Como não estudar um cineasta que uniu de modo harmônico a tão debatida noção de “autoralidade” com fartas bilheterias, tornando-se um “realizador autor” que foi sinônimo de poltronas lotadas por salas de exibição de todo o mundo? Cada pergunta dessas é um feito dele. 

São 20 anos de ausências e de saudade, um hiato que clama por uma revisão crítica. Daí a mostra “O Imperador e seu legado samurai”, que a Cinemateca do MAM, em parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro - ACCRJ programou agora para outubro, revisando algumas de suas mais populares produções e passando em revista muitos de seus saberes: “Com um bom roteiro, um bom diretor pode produzir uma obra de arte. Com o mesmo roteiro, um diretor medíocre pode produzir um filme aturável. Mas, com um roteiro ruim, nem um bom diretor consegue fazer um filme digno. Para que se realize, na tela, uma expressão verdadeiramente cinematográfica, a câmera e o microfone devem ser capazes de atravessar tanto o fogo como a água. O roteiro deve ser algo que tem o poder de fazer isso”, dizia Akira.

De 15 a 20 de outubro, a Cinemateca do MAM vai viver uma semana Kurosawa que começa com “Rashomon”, filme ganhador do Leão de Ouro do Festival de Veneza 1951, iniciando a consagração internacional dele, com prestígio de crítica e sucesso de público. A seleção se debruça pelo período samurai de sua filmografia explorando as diferentes leituras que ele fez de espadachins andarilhos do Japão feudal e de lordes guerreiros de sua pátria. Incluem-se aí o thriller medieval “Sanjuro” (1962); “A fortaleza escondida”, pelo qual ele ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim, em 1959; e o fenômeno popular “Os sete samurais”, ganhador do Leão de Prata em Veneza, em 1954, e indicado aos Oscars de Direção de Arte e Figurino.

Para o fecho do evento, foi escolhido “Mandadayo” (1993). Com ele, a mostra dá um salto no tempo, até os anos 1990, para acompanhar o Imperador em seu canto de cisne, seu filme final, que abre mão de katanas encharcadas de coágulos para acompanhar o outono da existência de um educador. É quase uma carta-testamento ou uma metáfora de uma vida de glórias e de muita luta, em prol da poesia da imagem.

Programação:
15/10 – segunda-feira
18h30 Rashomon (88 min, 1950) - antes da sessão, apresentação da mostra com Hernani Heffner, diretor de conservação da Cinemateca do MAM e membro da ACCRJ. Após a sessão, debate com os críticos de cinema Ana Rodrigues e Rodrigo Fonseca.



16/10 – terça-feira
16h Trono Manchado de Sangue (110 min, 1957)



17/10 – quarta-feira
18h30 A Fortaleza Escondida (140 min, 1958)



18/10 – quinta-feira
18h30 Yojimbo – O Guarda-Costas (110 min, 1961)



19/10 – sexta-feira
18h30 Sanjuro (96 min, 1962)



20/10 sábado
16h Madadayo (135 min, de 1993) + debate com Jeremias Ferraz e Luiz Fernando Gallego, membros da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). O mediador do debate será Leonardo Luiz Ferreira, membro da ACCRJ.



21/10 domingo
16h Os Sete Samurais (207 min, 1954)


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